Uma iniciativa cheia de amor ao próximo vem sendo realizada pelas crianças do Bairro da Juventude há quatro meses e na última semana chegou ao fim. Com as enchentes no Rio Grande do Sul e a vontade dos pequenos em ajudar, a professora de cerâmica da instituição, Vera Tramujas, teve a ideia de produzir peças de lã com técnicas de tricô, crochê e tear, para aquecer crianças atingidas pelas chuvas. A produção deu tão certo que na última semana as peças chegaram ao estado vizinho nas mãos do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente do Abrigo de São Francisco de Assis.
“Quando as enchentes começaram queríamos ajudar de alguma maneira e não sabíamos como. Eu percebia nas aulas os comentários das crianças, tristes, sensibilizadas com o que estava acontecendo. Tudo foi surgindo naturalmente, conversava com eles para perceber se tinham vontade de aprender algo novo, diferente da argila e que pudesse ser nossa contribuição de doação. Via muita empolgação, então desencantei do fundo do baú um antigo tear que ganhei do meu pai quando era criança e comecei a ensinar técnicas aos alunos, então surgiu a ideia de produzir mantas de lã”, contou a professora.
Mas para fazer com que as crianças aprendessem uma nova técnica manual, saindo da cerâmica para o tricô, não foi simples. “Fui conseguindo materiais por meio de doação. A ideia inicial era produzir 15 mantas em um mês, mas não foi tão simples assim, visto que sou apenas uma professora com 15 alunos querendo aprender ao mesmo tempo. Para que cada criança pegasse bem o ponto tinha que estar particularmente com este aluno, pelo menos 15 minutos, ou seja, em uma aula conseguia dar atenção a três ou quatro crianças”, revelou.
Apesar dos desafios, o trabalho feito a muitas mãos deu certo e as linhas deram espaço para peças quentinhas como cachecóis. “Foi um lindo desafio, muitos aprendiam rapidamente, outros nem tanto, mas tinham a persistência e alegria de me mostrar os resultados. Ficavam tricotando pelo pátio, ensinavam seus colegas, levavam pra casa e traziam empolgados no dia seguinte para me mostrar a evolução", pontuou.
Para Vera o trabalho realizado foi um desafio, mas gratificante. "Para mim também foi um grande desafio, pois não sou tricoteira de mão cheia. Sei o básico do básico, e aqui quero agradecer as dicas de muitas amigas que me orientaram, incentivaram, e até colaboraram com agulhas e lãs. Foi um trabalho de formiguinha, de fazer, refazer, tricotar, desmanchar, um aluno começa, outro continua, mas foram quatro meses de muita empolgação,foi um projeto muito bacana e gratificante”, finalizou.
A entrega foi feita em Porto Alegre no Centro de Promoção da Criança e do Adolescente do Abrigo de São Francisco de Assis, pela voluntária Deth Pavei. "Quero agradecer de coração as crianças e a professora Vera e mandar uma benção para todo o povo de Criciúma e de modo especial ao Bairro da Juventude que se solidarizou conosco. Essas peças vão servir muito as nossas crianças do abrigo, que perderam as suas famílias, nossa gratidão”, disse o frei Luciano Bruxel, que recebeu o pacote com as peças de lã.